9 de abr. de 2010

Entrevista com Dimitri Ganzelevitch

Dimitri Ganzelevitch é francês, nasceu no Marrocos, com ascendência russa. Já morou em Portugal, porém abandonou o país com 39 anos, onde administrava uma loja de confecções e duas galerias de arte, e agora tem sua morada no Brasil, mais especificamente no Centro Histórico de Salvador, Bahia, desde 1975. A preocupação com as roupas jamais existira depois que se mudou para o Brasil. O amor pelas obras de arte foi mais forte, já que Dimitri fez parte de um universo da arte desde os tempos de escola em Londres e Paris. Logo de primeira, Ganzelevitch se dedicou à arte acadêmica e erudita, porém foi na arte popular que descobriu “a riqueza da criação humana”.


Hoje, Dimitri é um artista preocupado com a cultura popular e transformou-se numa espécie de garimpeiro de novos artistas. Uma das maiores coleções pessoais de arte popular do Brasil pertence a ele. Em uma conversa bastante descontraída, Dimitri Ganzelevitch nos concedeu uma entrevista sobre as artes populares, com foco nas esculturas urbanas, tema do blog em questão.

ESCULTURAS URBANAS – Do ponto de vista artístico, o que representam estas esculturas?
DIMITRI GANZELEVITCH – Esculturas existem, conhecidas ou não, assinadas ou não. Sempre colocadas com o acordo e apoio das autoridades. Portanto, são geralmente de caráter acadêmico. Contribuem a oficializar uma figura famosa (Castro Alves, Joana Angélica, Barão de Cairu etc) e servem de referência histórica.

EU – Qual a relação que elas podem ter com a população local?
DG – Elas podem contribuir a sensibilizar a população para as artes plásticas e lembrar datas e nomes importantes para a história do país ou da Bahia.

EU– É possível classificar estas esculturas? Existem sub-grupos?
DG – Geralmente elas são de característica acadêmica. Raras vezes têm conotação mais contemporânea como os dois monumentos de Calazans Neto – por sinal não muito interessantes – e uma de Mestre Didi, no Rio Vermelho, mais elegante e integrada à paisagem marítima.

EU – O fato de estas obras estarem fora de museus, espaços fechados, as diferencia das que se encontram dentro de espaços reservados como estes citados?
DG – Claro que as diferencia, nem que seja pelo tamanho e a resistência ao clima. Pior é o homem que consegue vandalizar qualquer monumento, seja pichando, seja quebrando, como há poucos dias vi o braço arrancado de uma das estátuas de bronze da fonte da Praça da Piedade. Revoltante! E a sede da Policia Civil, bem ao lado. Nosso grande problema é o vandalismo que leva os governantes a abrigar as obras de arte em museus, perdendo assim qualquer conceito inicial.

EU – Como se dão as interferências fora do Brasil, principalmente na Europa? Os tipos de esculturas urbanas de outros países divergem muito das baianas, soteropolitanas.
DG – Depende dos países e das culturas, mas diremos que, de forma global, pelo menos no mundo ocidental, há mais preocupação com a contemporaneidade. No coração de Paris, por exemplo, podem-se admirar estátuas de artistas famosos como Rodin, Picasso, Maillol, Nicki de Saint-Phalle, Zadkine, Arman etc. Em Lisboa, Cargaleiro etc. Aqui poderíamos investir mais nas expressões mais atuais. Mas com o prefeito que temos, é só ir ao campo da Pólvora para ver o deserto cultural que a sociedade soteropolitana está atravessando.